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Carta de Esperança Garcia


"Eu sou uma escrava de V. Sa. administração de Capitão Antonio Vieira de Couto, casada. Desde que o Capitão lá foi administrar, que me tirou da Fazenda dos Algodões , onde vivia com meu marido, para ser cozinheira de sua casa, onde nela passo tão mal. A primeira é que há grandes trovoadas de pancadas em um filho nem sendo uma criança que lhe fez extrair sangue pela boca, em mim não posso explicar que sou um colchão de pancadas, tanto que caí uma vez do sobrado abaixo, peada, por misericórdia de Deus escapei. A segunda estou eu e mais minhas parceiras por confessar a três anos. E uma criança minha e duas mais por batizar. Pelo que peço a V.S., pelo amor de Deus e do seu valimento, ponha os olhos em mim, ordenando ao Procurador que me mande para a fazenda de onde ele me tirou, para eu viver com meu marido e batizar minha filha. De Vossa Escrava, Esperança Garcia" CARTA ORIGINAL:

"Eu sou hua escrava de V. Sa. administração de Capam. Antº Vieira de Couto, cazada. Desde que o Capam. lá foi adeministrar, q. me tirou da fazenda dos algodois, aonde vevia com meu marido, para ser cozinheira de sua caza, onde nella passo mto mal. A primeira hé q. ha grandes trovoadas de pancadas em hum filho nem sendo uhã criança q. lhe fez estrair sangue pella boca, em mim não poço esplicar q. sou hu colcham de pancadas, tanto q. cahy huã vez do sobrado abaccho peiada, por mezericordia de Ds. esCapei. A segunda estou eu e mais minhas parceiras por confeçar a tres annos. E huã criança minha e duas mais por batizar. Pello q. Peço a V.S. pello amor de Ds. e do seu Valimto. ponha aos olhos em mim ordinando digo mandar a Procurador que mande p. a fazda. aonde elle me tirou pa eu viver com meu marido e batizar minha filha q. De V.Sa. sua escrava Esperança Garcia”


*Esperança Garcia foi uma mulher negra escravizada, de Oeiras (PI), que escreveu essa carta em 1770 denunciando a situação de violência que vivenciava. Essa carta é primeira petição por direitos humanos que se tem relato no Brasil e a Comissão da Verdade da Escravidão Negra da OAB/PI, com o Projeto Esperança Garcia, pretende reconhecer o protagonismo de sua iniciativa concedendo a ela o título de primeira mulher advogada do Brasil.

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