Perfumes de Maio
Maio chegou, perturbou. Ele era um bobo garoto, achava que conhecia o amor e amava a todas por um mês e pouco e um sorriso qualquer. Amava, suspirava, olhava envergonhado, fingia estar tudo normal quando o coração batia mais rápido por estar perto, sofria, superava. Amava, sofria, amava de novo. Namorou primeiro, beijou depois. Viveu um grande amor primeiro, percebeu depois. Foi aí que ela chegou, intrigou, reclamou, moldou, dominou. Ela também achava que conhecia o amor. Os dois talvez estivessem certos sobre o amor, esse sentimento estranho, confuso, esse agir democrático transgressor, esse querer pertinho misturado com um deixar soltinho.
Maio ficou, estancou. Era ele e ela. Os dois. De vez em quando mais alguém. Um era o outro, suas imagens se confundiam como Chris e Greg. Ele não sabia mais quem era, não era mais o bobo garoto, não sabia mais o que era o amor, duvidava do que sentia, queria mudar a ordem do continuum.
Maio passou, deslocou. Ele era um, depois metade, agora nada. Da morte das certezas veio o caos e a procura por um caminho dentro do vácuo. Ofereceram-lhe uma gravata fofinha, ele tentou fazer o nó, nunca acertou. O medo da solidão colocou diante dele uma trilha que ele nem gostou, aceitou porque era curta. Tinha medo de altura, sem pedir permissão achou quem o incentivasse a pular de cada vez mais alto. Do que acontecia, consciência de nada tinha ele e os outros muito pouco.
Maio habita. O indeterminado permitiu a ele se conhecer. Reconheceu-se. Na procura por si dentro do caos ele achou ela. Ele cresceu para além dela. O traço dela habita nele e ele tenta cuidar das orquídeas que ela plantou. Voltou a amar, voltou a sofrer. Ama, sofre, ama. Desistiu de conhecer amor, decidiu só sentir.
[Ele achava que ela queria conhecer o amor,
ela só queria sentir,
ele nunca percebeu.]
Teresina, Maio de 2017.
(*) Iago Masciel é estudante de graduação em Direito da UFPI, comunicador do Projeto Cajuína (PREX/UFPI), integrante do Núcleo de Direitos Humanos Esperança Garcia com vínculo no Grupo de Estudo em Direito Crítico e membro do corpo editorial do jornal O Libertas (jornal do curso de Direito da UFPI).
